Perfil do professor de EMRC
O professor de E.M.R.C. deve ser munido de uma relação humana, próxima e de amizade contrariando, deste modo, a tendência, muitas vezes instalada, de debitar apenas conhecimentos. Ser professor de E.M.R.C. implica cada vez mais ser portador de competências humanas que se testemunham na grande proximidade com os alunos, no interesse pela sua vida pessoal, pelos seus fracassos e que nesse companheirismo dócil seja, ao mesmo tempo, exemplo de vida humana a seguir. Ao professor exige-se o conhecimento pessoal e valoração das relações interpessoais e o fomento do altruísmo. Ele deve ser um criador de espaços de diálogo, espaços disponíveis para um autêntico diálogo ético. Dialogar muito e amplamente com eles, sobre os seus problemas e sob o seu ponto de vista. Procurar pôr-se no seu lugar, mantendo diálogos não paternalistas ou intransigentes, na perspetiva de conclusões "consensuais". Confrontar, ajudar a mostrar e a pensar as contradições que uma determinada proposta traz em si mesma. Isto é o que verdadeiramente convence. Isto é ser contracultura, é ser testemunho de humanização, é ser sinal de comunhão que contraria e põe a nu situações fraturantes como o individualismo que pensa as coisas em função de si próprio, e nos torna incapazes de amor oblativo, mas tão-somente captativo, educados apenas a sermos crianças grandes, exclusivamente idealistas.
Em segundo lugar, tem de ser capaz de equilíbrio e maturidade, elementos estruturantes e definidores da identidade do professor de EMRC. Ser sinal de respeito, no olhar, no ouvir, no falar, ... ser sinal de equilíbrio no usar, no consumir, ... ser sinal de equilíbrio no virtual, na internet, nos meios, ... em todas as formas de ser e, portanto, de atuar. Uma sociedade que veicula o consumo de afetos, que promove amizades virtuais, que cultiva o facilitismo, o comodismo e o prazer, que alimenta atitudes de idolatria vendendo futilidades imediatas e esperanças infundadas, precisa urgentemente de um professor de EMRC que dê sinal de equilíbrio, moderação e maturidade. Revelar que os meios que estão ao alcance de todos, ou quase todos, servem as pessoas e não o contrário. É evidente que não pode ficar à margem dos outros professores. As tecnologias, novas linguagens curriculares, são um conjunto de instrumentos e mecanismos que o professor utiliza para o desenvolvimento das aprendizagens essenciais. Sendo as mais atrativas (o que hoje é novo amanhã é obsoleto, é velho) o professor deve conhecê-las. No entanto, antes de ser especialista em tecnologias a escola espera que ele seja especialista de humanidade. A melhor tecnologia é o professor, o seu testemunho vivo, Cristo é a biblioteca, a tecnologia do professor. O tecnologismo reduz o ser humano à dimensão técnica, realiza uma comunicação à distância, corrompe a amizade e comercializa os afetos. O tecnologismo deusifica o prazer, atracão perentória, que promete mas não cumpre e expulsa a felicidade. O professor de EMRC deve promover a felicidade, horizonte histórico e relacional, que aparece quando não é objeto de busca e hospeda o prazer. O professor deve ser sinal de amor como relação e não como possessão. A maturidade vê o amor como oblação que se traduz na Carta aos hebreus quando diz há maior alegria no dar que no receber. Quanto maior é o amor maior é a renúncia. Ao contrário, o tecnologismo cria predadores que vivem "sacando", tirando e explorando o amor do outro. Amar-se no outro é a norma ritualizada nos meios de comunicação. Urge por parte do professor maturidade e conhecimento dos dinamismos próprios da sexualidade humana, capacidade de tomada de decisões sobre os diversos campos da vida humana, incluindo no âmbito da sexualidade, capacidade de análise equilibrada da realidade tendo em conta o ser situado, o hoje, cheio de situações fraturantes. Ensinar normas pressupõe discutir cultura e valores que se encontram, de forma oculta, na sua base. Por trás das normas estão questões de cultura tais como, sexualidade e liberdade. Veja-se o exemplo da "fratura" - aborto, que traz consigo o valor da liberdade levado às últimas consequências. O grande combate é, com certeza, o dos valores e da cultura. A valorização do acolhimento, da partilha, da solidariedade, da inclusão vai abrindo as portas ao comportamento ético, condição prévia, para posteriormente se dar o salto da fé.
Em terceiro lugar destaco a sensibilidade à problemática sociocultural e abertura de espírito universal, ou seja, o professor de E.M.R.C. deve ser sinal de esperança e de cooperação (flexibilização curricular), contra a cultura de vida como concorrência social, exaltada por um capitalismo desumanizante, que enferma e corrompe a sociedade onde o mais adaptado leva a melhor sobre os outros. A escola tem de remar contra a maré, contra a cultura de vida na superfície das coisas, onde os culpados do insucesso nunca são os alunos, sinal de mediocridade, porque divorcia o esforço da aprendizagem, contra a cultura do homem "layte" (facilitismo) que chega ao sucesso sem ter lido um livro. Sensibilidade às crises sociais derivadas do capitalismo tais como o desemprego e a pobreza. A crise é rutura com o antepassado, mas também projeção para o futuro. Sensibilidade às tensões no mundo, à relação do Ocidente com o Islão, onde não há paz nem sobrevivência sem ética mundial, sem diálogo inter-religioso, abandonando a ideia de que somos donos da verdade, ao anonimato social, à perda de um sistema universal de valores éticos onde os outros são simplesmente instrumentos do meu prazer ou bem-estar. Sensibilidade ao religioso institucional como subproduto do medo e da ignorância que a ciência se encarrega de eliminar, sensibilidade às mudanças constantes cosméticas e avulsas da sociedade e, por último, ao naufrágio do ensino.